Nos 54 Anos da Morte de Filipe Gameiro Pereira

Hoje 28 de Abril de 2022 decorrem 54 anos da morte de Filipe Gameiro Pereira.
Relembro esse triste dia em que o acompanhei, com a minha mãe, irmã e muitos amigos, até à campa no cemitério de Queluz onde ainda se encontra. Nesse mesmo dia embarquei para Angola num DC-6 cargueiro com destino ao Negage onde cumpri o resto do meu serviço militar na guerra colonial.

Mais tarde tomei conhecimento que em Agosto desse ano “quiseram todos os componentes do VI Curso Nacional de Aperfeiçoamento render sentida homenagem ao percursor dos Cursos Nacionais de Arbitragem”, descerrando uma lápide onde se pode ler: Homenagem dos Árbitros Portugueses a Filipe Gameiro Pereira.
Tenho muito orgulho na sua memória. Ser reconhecido pelos seus pares é mais importante que qualquer outro elogio venha ele donde vier!

Capa do Boletim “O Árbitro” de Abril de 1968
Homenagem dos participantes no “VI Curso Nacional de Aperfeiçoamento”, Agosto de 1968
Outro aspecto da Homenagem

Continuando a pesquisar o seu espólio encontrei recentemente um conjunto de cartões que ilustram bem o seu percurso de desportista assim como a dedicação, ao longo dos anos, à coisa do desporto como atleta, fiscal de linha, árbitro e dirigente formador das “Regras do Jogo”.
Complementarmente, desde cedo se dedicou também ao jornalismo desportivo na área da sua formação: As Leis do Futebol. Ver sobre Filipe Gameiro Pereira.

Passados apenas 54 anos do seu desaparecimento tenho observado que ele, como tantos outros, passou ao esquecimento das principais organizações onde colaborou, nomeadamente na Federação Portuguesa de Futebol e na Associação de Futebol de Lisboa.
Li recentemente algures que “um povo sem memória é um povo sem futuro” Fonte
é o que se passa neste caso em que a “Indústria do Futebol” pouco tem a ver com o extinto desporto tão popular.

Para ilustrar esta situação basta recuar um pouco no tempo para se encontrar “vestígios” da existência deste lutador pela causa desportiva que pautava a sua actividade na exigência, rigor e honestidade.

Capa das “Bodas de Ouro da Associação de Futebol de Lisboa” (1910-1961)
A colaboração da Arbitragem com a A.F.L.
Cartão de Sócio de Mérito da A.F.L. (1945)
Os 50 Anos da Federação Portuguesa do Futebol – 1964
Artigo de Filipe Gameiro Pereira sobre a Arbitragem de Futebol

Melhor que as palavras, as imagens ilustram o que acabo de dizer. Basta percorrer o “CV Desportivo”, através dos cartões dos vários cargos que desempenhou Gameiro Pereira, para se ter uma ideia de quão pobre é o registo desportivo português e a pouca importância que se dá à História dos protagonistas do nosso desporto, neste caso do futebol.

Como atleta

“Juiz de Campo” (hoje Fiscal de Linha) Futebol

Como Árbitro de Futebol

Como Dirigente dos Árbitros de Futebol

Último cargo interrompido pela sua morte

Como jornalista desportivo

Colaborou ainda com os jornais “Record” e “Diário Popular”.

Documentos do artigo

Para a História do Desporto e dos Desportistas

Composição sobre a entrevista

O futebol apareceu em Portugal no ano de 1884. Lisboa jamais pensara na existência desse jogo, cuja origem é reclamada por muitos. Estávamos na época do Passeio Público — A nossa Avenida da Liberdade — onde os rapazes, nos momentos de folga, lançavam olhares românticos às meninas ainda mais românticas, de cabeças emolduradas por fofos bandós e encimadas por chapéus que eram catedrais de plumas, e usavam vestidos de cintura apertada e ampla «tournure». Lisboa passeava de trem — cerimoniosamente. As bailarinas de S. Carlos apaixonavam os fidalgos, que consumiam o tempo entre elas e as toiradas.
As senhoras elegantes jogavam o «diávolo», e a Corte reunia-se uma vez por outra, nas caçadas.
Do futebol haveria, apenas, uma ideia distante, vinda da Inglaterra, onde o jogo entusiasmava o povo e ganhava a simpatia das classes privilegiadas.
A primeira bola chegada a Portugal, em 1884, foi como um grito de vitória — da vitória do futebol. Guilherme Pinto Basto, estudante em Inglaterra, trouxe-a da velha Albion, como uma jóia rara…

Extracto dum texto publicado no Livro Comemorativo das Bodas de Ouro da Associação de Futebol de Lisboa 1910-1960.

A entrevista a Guilherme Pinto Basto

Entrevista
de
Monteiro Poças

Num dia de Verão, em 1888, desembarcaram em Lisboa, vindos de Inglaterra, onde estavam frequentando o «Downside College», dois rapazes portugueses: os irmãos Eduardo e Frederico Pinto Basto. O facto, aparentemente de uma importância que não ultrapassaria o ambiente das secções mundanas dos jornais da época, tem contudo, para nós desportistas um significado especial porque, numa das numerosas «valises» dos jovens estudantes, entre livros escolares, peças de roupa e romances policiais, vinha uma bola de futebol — a primeira bola de futebol que entrou em Portugal…
E, não será difícil adivinhar o motivo que levou os irmãos Pinto Basto a incluirem na sua bagagem o «inofensivo» balão de couro:

Educados em Inglaterra, habituados ao jogo, então, como hoje preferido pelos desportistas daquele país, os nossos compatriotas deixaram-se seduzir pelo desejo de «transplantarem» para Portugal o popularíssimo «foot-ball association»… Asim , os seus conhecimentos da mecanica do jogo e o seu entusiasmo pelo emocionante desporto ajudaram a introduzir em Portugal uma modalidade que, alguns anos mais tarde, ocupava já uma situação invejável, pela sua expansão e constitui actualmente uma força vigorosa e indestrutível — uma força que ninguém pode desconhecer ou menosprezar…

O primeiro estádio português

Uma vez em Portugal, Eduardo e Frederico Pinto Basto trataram de aliciar adeptos para o novo jogo… E, o primeiro companheiro que se lhes deparou foi, naturalmente, seu irmão Guilherme, mais velho do que eles e que, dois anos antes estivera, também, na Grã-Bretanha, completando a sua educação.

Pouco a pouco, parentes e amigos foram «contaminados» e, em Setembro, durante as férias passadas numa quinta que a família ainda possui em Belas, preparou-se o primeiro encontro de futebol que se efectuou em Portugal…

Mas ouçamos o sr. Guilherme Pinto Basto — o prestigioso desportista que, ainda há dias, apesar dos seus 83 anos, se prontificou a ir ao Estádio Nacional, dar o «pontapé de saída» num encontro que serviu para iniciar a actividade do Grupo Desportivo da sua antiga casa comercial…

Guilherme Pinto Basto, com cativante simplicidade, fornecera-nos os dados de que nos servimos para abrir esta curiosa entrevista. Em tom de conversa sem rebuscar termos ou procurar frases, contava-nos afinal, a saborosa história da introdução do futebol em Portugal…

E, a nosso pedido, o sr. Guilherme Pinto Basto — único sobrevivente dos três antigos alunos do «Downside College» — relatou-nos o primeiro jogo em que tomou parte:

— Os meus irmãos não descansaram, enquanto não arranjaram dois «teams», para se disputar um encontro de futebol… Em Belas, estava também, a família do marquês de Borba e foi, precisamente, num pátio que existia na casa desse amigo de meu pai — o pátio do Bonjardim — que em Setembro de 1888, se efectuou o tão ansiado desafio, com a colaboração, até, de meu pai e do marquês de Borba!

Pormenores da «histórica» partida não os reteve a memória, apesar de tudo previlegiada, dos sr. Guilherme Pinto Basto…

— Só procurando elementos, nos meus papéis velhos.

E logo acrescenta:

De Belas fui para Cascais onde, no mês seguinte — Outubro, portanto — se disputaram por minha iniciativa, nos terrenos da parada, vários jogos de futebol… Recordo alguns dos meus companheiros: Aires de Ornelas, João Bergaro, Jorge Figueira, Francisco Alte, Francisco Figueira, Salvador da França, Manuel Salema, Salvador Asseca, Pedro Sabugal, Hugo O’Neill… e tantos, tantos mais…

A evocação da sua mocidade distante não faz desaparecer o sorriso confiante, optimista, do glorioso desportista que temos na nossa frente; antes, a lembrança de tais acontecimentos parece iluminar o seu espírito, que não envelhece nesta evocativa digressão pelo passado…

Um desafio Internacional no Campo Pequeno

O famoso desportista prossegue na sua interessante narrativa salpicada, aqui e ali, de um comentário gracioso ou de curiosos esclarecimentos:

— No Inverno de 1889, já se jogava futebol em Lisboa, no largo do Campo Pequeno, onde é hoje a Praça de touros. Foi aí que, em 22 de Janeiro defrontámos um «team» de Ingleses como pode ver por esta notícia…

Ei-la, na sua grafia original, para não perder o sabor nem o perfume do passado:

«Effectua-se hoje no Campo Pequeno um ensaio para o grande «match» de Foot-Ball que à uma hora da tarde de terça-feira ali se deve realizar entre ingleses e portugueses. O Foot-Ball é um dos mais interessantes jogos ingleses que ultimamente muito se tem desenvolvido entre nós. O «match» de terça-feira promete ser animadíssimo. No grupo dos inglezes, vêem-se os nomes do capitão Thompson, de R. Watton, J. Morsden, C. Cok, J. Thompson, C. Anderson, H. Palmella, R. Constance, W. Fraser e de E. Brigg; no dos portugueses do de: Eduardo Romero, Affonso Villar,Augusto Moller, Henrique Villar, Duarte Pinto Coelho, Simão Redondo, João Bergaro, Guilherme Ferreira Pinto Basto. Difficil será apostar por uns ou por outros, tão distinctos são os sympáthicos competidores, a quem o nosso high life vae dar uma deliciosa tarde porque o seu rendez-vous na terça-feira deve ser no Campo Pequeno.

O conhecido desportista Armando de Freitas, funcionário superior da Casa Pinto Basto e presidente da assembleia-geral do Lisboa Ginásio Clube que assistia à interessante entrevista comentou:

— Mais ou menos um Portugal-Inglaterra em miniatura…

— Recorda-se qual o resultado desse jogo — perguntamos ao sr. Pinto Basto. Resposta pronta:

— Sei que vencemos mas não posso dizer-lhe por quantos… Compreende, isto passou-se, há, quase sessenta anos…

Acrescentamos nós:

— No dia em que esta entrevista for publicada, ter-se-ão completado, precisamente, cinquenta e nove anos, sobre essa exibição.

O ténis e a caça — os dois desportos favoritos

Formara-se no nosso espírito a ideia de que o sr. Guilherme Pinto Basto fora um praticante e adepto fervoroso do futebol, dedicando a sua atenção exclusivamente, a este desporto.

Recebemos, porém, a prova de que laborávamos em erro, quando o nosso amável interlocutor nos disse:

— Os meus irmãos gostavam mais do futebol do que eu… a minha predilecção ia, sobretudo, para o ténis — de que cheguei a ser campeão — e para a caça…

— Mas jogou futebol durante muitos anos?

— Na verdade até 1894, data em que, joguei pela última vez, tomei parte em muitos encontros, ocupando sempre o posto de «goal-keeper».

E, a confirmar, modestamente, a sua afirmação:

— Não gosto de o dizer, mas tinha um certo jeito para o lugar…

Prosseguindo na sua curiosa evocação, o nosso ilustre interlocutor recorda a sua última exibição, feita no Porto por sinal no jogo que abriu, a série já extensa, dos encontros Porto-Lisboa:

— Foi um grande jogo, muito correcto e contra excelentes adversários…

O sr. Guilherme Pinto Basto talvez, cansado de falar no passado, termina este amontoado de recordações com um desabafo:

— Nunca supus que o futebol português, nascido de um entretenimento para meia dúzia de rapazes alcançasse tão grande expansão e popularidade! Sinto-me satisfeito, por ter contribuido para a sua introdução no nosso país…

Ainda uma pergunta:

— Apesar de afastado dos campos de futebol, continuou a acompanhar o movimento desportivo?

— Embora tivesse abandonado o futebol, continuei, de facto a dedicar muita atenção a este magnifico e espectacular desporto, como simples espectador. Mais tarde, meu filho, Eduardo Luís, teve uma obra curiosa no C. I. F., e eu, compreensivelmente não me afastei dos assuntos que se relacionavam com este clube. Ultimamente, por amável deferência dos organismos competentes, tenho recebido convites para os jogos internacionais que se disputam no Estádio Nacional.

E o sr. Guilherme Pinto Basto encerrou assim a entrevista:

— A ideia dos meus empregados, levando-me a inaugurar as actividades do seu grupo desportivo, encheu-me de jubilo e comoveu-me sinceramente!…

Compreende… tantos anos passados não foi sem uma pontinha de emoção que voltei a pisar um campo de futebol!…

Em 1964 Filipe Gameiro Pereira promove a memória do acontecimento.

Aproveitando a visita a Portugal do Presidente da FIFA na altura, Sir Stanley Rous, e na sua presença, com a anuência da família Empis, proprietária da Quinta do Bonjardim e com a participação do Clube Desportivo de Belas, é colocada uma placa sobre o “jogo de futebol familiar” realizado no belíssimo pátio de entrada da Quinta.

História do Futebol em Portugal – Placa Comemorativa
História do Futebol em Portugal – Pátio da bela Quinta do Bonjardim

Nesse mesmo ano de 1888 e com a participação dos irmãos Pinto Basto e amigos realizaram-se vários encontros de futebol e “ensaios” públicos em Cascais e no Campo Pequeno que estão documentados em várias publicações.

Publicações consultadas

  • “Bodas de Ouro da Associação de Futebol de Lisboa” (1910-1960) – Setembro de 1960 *
  • “Os 50 Anos da F.P.F.” – Edição da Federação Portuguesa de Futebol *
  • “100 Anos de Futebol” – Associação de Futebol de Lisboa (Setembro 2010)
  • “Cascais Aqui Nasceu o Futebol em Portugal” – Edição da Câmara Municipal de Cascais (2004)

(*) Publicações do espólio de Filipe Gameiro Pereira

Nota Final

Conhecendo o espírito de desportista de Filipe Gameiro Pereira revejo neste trabalho a sua visão despretensiosa sobre o Futebol apenas o movendo o registo histórico sobre o desporto, longe de “campeonatos” ou disputas secundárias sobre o assunto.

Jaime Pereira
Nota: As fotos apresentadas são de minha autoria.
Contei ainda com a colaboração de Miguel Leiria Pereira na montagem do artigo da entrevista a Guilherme Pinto Basto.

OBS: Os textos estão escritos no português da altura e outros actuais não obedecem ao Novo Acordo Ortográfico.

O Mundial de Futebol de 1966 em Inglaterra

No próximo mês de Julho haverá 52 anos que a selecção portuguesa teve uma prestação invulgar (à época) neste Mundial, classificando-se em 3.º lugar e perdendo apenas o jogo com a Inglaterra que se sagrou campeã.

Aproveitamos a oportunidade para divulgar o programa oficial do campeonato do mundo de futebol de 1966 com uma curiosidade:
Este programa foi oferecido a Filipe Gameiro Pereira, que na altura pertencia ao quadro de instrutores dos árbitros de futebol da FIFA, pelo arbitro internacional do nosso país, Sr. Joaquim Fernandes Campos,  único arbitro português que participou no Campeonato do Mundo de 1966.
Destaca-se a curiosidade de  Joaquim Campos ter pedido o “autógrafo” a todos os árbitros participantes como se pode constatar na pagina N.º 4 desta edição.

Assinaturas dos árbitros participantes no mundial de 1966

Informação Importante

Não e permitida cópia ou uso de qualquer conteúdo (imagem, texto, etc) desta edição sem prévia autorização.
É permitida a partilha excepto para uso comercial.

No 106.º Aniversário de Filipe Gameiro Pereira

Passamos a divulgar uma parte Histórica do seu trabalho publicado em 1963 pela Federação Portuguesa de Futebol.

Capa do Livro

 

 

 

Apontamentos Sobre a Arbitragem do Futebol-Extracto-Blogue-2017

Extracto do texto original

“… O futebol, um desporto por natureza excitante, possui, sem dúvida, uma história bastante curiosa, digna até de a ela nos referirmos com maior largueza, mas que a falta de tempo nos impossibilita, dado que não queremos deixar de frisar outros factos de interesse e que dizem respeito ao futebol contemporâneo.

Os primeiros sintomas da existência do verdadeiro futebol verificaram-se nos primeiros anos do século XIX. Todavia, o professor H. A. Giles, da Universidade de Cambridge, durante as suas buscas, conseguiu reunir elementos comprovativos de que o mesmo já existira na China, muito antesde Júlio César que trouxe o seu jogo chamado HARPASTUM, para a Grã-Bretanha. Documentação chinesa atribui a certo Imperador amarelo (isto no seu período), a existência do futebol como parte do treino militar daquela época. Verificou-se isto na dinastia de Han, há cerca de dois mil anos.

A citada história, refere-se a um jogo chamado TU CHU cuja tradução nos dá o seguinte: TSU, significava dar um pontapé, e CHU, uma bola feita de couro.

Existiam então duas formas diferentes de praticar o futebol. O primeiro jogava-se no dia do aniversário natalício do Imperador e os dois grupos defrontavam-se sempre em frente do Palácio Real. Duas varas de bambú, com cerca de 9 metros de altura, eram colocadas no terreno de jogo, as quais eram ornamentadas com bonitas fitas de seda. Entre as duas varas era colocada uma rede de seda, no meio da qual existia um buraco, com cerca de 30 cm de diâmetro, por onde os jogadores procuravam introduzir o esférico. Eram então estabelecidos vários prémios, mas, em contrapartida, o «capitão» dos vencidos era humilhado pùblicamente.
Os jogadores que mais se destacavam tinham sempre facilidades na sua carreira, e um, por exemplo, foi promovido a general do exército do país, dada a sua alta categoria de futebolista. Outro, que perdera um olho du
rante um jogo, como indemenização, foi nomeado para um alto cargo do Ministério da Obras Públicas.
A outra forma de jogar, consistia em, segundo a expressão então usada, «a bola nunca deve abandonar o pé, assim como o pé nunca deverá abandonar a bola», isto é, o jogador devia manter o esférico a saltar sobre o pé, defendendo assim a sua posse. Constituia isto, ao tempo, o sistema de «dribling».
No Japão também se praticou um jogo chamado KEMARI o qual se jogou durante 14 séculos, tendo o terreno de jogo 14 metros quadrados. Em cada canto era plantada uma árvore de espécie diferente e o número de participantes no referido jogo era de oito. O jogo consistia em passarem a bola uns aos outros, sem paragens. Em Itália, o medieval jogo florentino chamado Calcio, palavra ainda hoje usada pelos italianos para designarem o futebol, jogava-se na Piazza Della Signoria, em Florença, duas vezes por ano. A primeira no primeiro domingo de Maio e, a segunda, a 24 de Junho, dia de S. João Baptista, patrono daquela cidade.
Pode dizer-se que o Calcio, para os italianos, é um jogo histórico, porquanto, em 1530, a cidade era duramente atacada por forças imperiais, jogando no entanto a nobreza debaixo do fogo dos atacantes. No dia do jogo, era feriado em toda a cidade e o comércio fechava. Constituíam-se dois grupos, brancos e encarnados, cada um dispondo de 27 jogadores, dos quais 15 eram avançados e os restantes defensores da baliza que tinha a largura do campo do jogo.
Há dúvidas se o futebol jogado na Grã-Bretanha tem origem no romano HARPASTUM ou no grego EPISKYROS. O que não há dúvida é que séculos antes de aparecer o «cricket» e os desportos náuticos, o povo havia adorado o futebol.
Por o julgarmos oportuno, resolvemos incluir neste modesto trabalho, um extracto do que escrevemos em 1949 sobre o Curso que frequentámos em Londres.
O futebol na Grã-Bretanha, data segundo a tradição, do ano 55 A.C., quando as legiões imperiais comandadas por Júlio César, conquistaram a Inglaterra.
Segundo a documentação oficial do Século II, na altura em que se começou a povoar a ilha de Purbek, ao sul da Inglaterra, foi atribuída a cada habitante certa área de terreno, usando-se o seguinte processo para limitar a respectiva área: No local onde se começava a contar a distância, era colocada uma bexiga de porco cheia de ar, e, então, era convidado o ndidato à posse do terreno a dar-lhe um pontapé. O terreno compreendido entre o ponto de partida e o local onde parava a bexiga, ou seja, o espaço por ela percorrido, era atribuído ao chutador. O testemunho dessa documentação encerra, sem dúvida, a antiguidade deste desporto na Grã-Bretanha.
Jogou-se depois nas ruas, mas acabou por ser proibido em virtude dos muitos inconvenientes e das lutas acesas a que dava lugar.
Mais tarde, praticou-se nos caminhos, entre as localidades, tendo por terreno de jogo o caminho que ficava entre as mesmas. O jogo tinha o seu início num ponto equidistante das localidades contendoras, geralmente perto de uma taberna e cada grupo devia fazer todo o possível por levar a bola, usando todos os meios ao seu alcance, à praça principal da localidade adversária. Em 1691, o futebol era tão popular que nem o genial William Shakespeare pôde evitar a sua influência, posto que, na sua obra «A Comédia das Equivocações» destinou a um dos personagens a seguinte expressão: «Corro para vós de tal maneira que me havia tomado por futebol, passando-me assim de um ao outro. Vós lançais-me daqui e ele lança-me de lá. Se isto continua assim, o melhor é mandar-me forrar de couro.»
Ainda na mesma época, no seu livro «Anatomia das Almas» afirmou Stubes: « O futebol é um passatempo diabólico, jogo sanguinário e mortífero, mais que desporto amistoso, pois os jogadores sofrem fracturas de pernas, perdem olhos e nenhum praticante consegue sair do campo sem feridas.»
Por ser um jogo desumano e criminoso, o rei Carlos II de Inglaterra, proibiu-o no Século XVI, ao mesmo tempo que fazia sair um decreto pelo qual declarava punível com prisão e encarceramento quem praticasse tão criminoso desporto. Mais tarde, nos fins do Século XIX, reiniciou-se a prática do futebol mas sob certas regras, nos pátios dos Colégios e Universidades.
Até 1863, contava cada colégio, universidade ou clube, com leis próprias. Existiam então seis regulamentos distintos, posto que cada um elaborava o seu, sempre de acordo com as dimensões do terreno ou pátio com que contava para jogar. No Colégio de Rugby, que era onde se praticava mais futebol, existiam regras diferentes. Entretanto, é justo salientar que, acima de tudo isto, observava-se um amplo e alto espírito desportivo, visto que se mantinha em todas as instituições escolares o especial cuidado de não se tirar vantagem de sistemas ilegais. O jogo continuava a despertar entusiasmo e assim, a 26 de Outubro de 1863, na célebre taberna de Freemasen, 8 clubes e 4 colégios, reunidos em Assembleia Geral fundaram a Football Association, a que nós chamamos Federação Inglesa, tendo eleito três nomes históricos do futebol inglês: Pember, Morley e Cambell

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Nota: O texto está escrito com a ortografia usada na altura

No seu 105.º Aniversário

No primeiro dia deste quente Agosto resolvemos registar a “mudança de casa” deste espaço com uma curiosidade escrita há 68 anos.
O blogue Filipe Gameiro Pereira passou a ter um “lugar” em domínio próprio: Anta da Estria

A Anta da Estria situada entre Queluz e Belas no concelho de Sintra tem tudo a ver com a Família Gameiro Pereira. Daí a escolha.

Da Revista “SHELL NEWS” Julho/Agosto de 1948

o futebol britânico

Uma vida inteira dedicada à causa desportiva

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